Um Sábio Suicídio

Um transeunte qualquer andava pela calçada, de um bairro qualquer, e reparou num outro homem qualquer que estava sentado numa mesa apontando para o alto de um prédio alto, qualquer. O transeunte olhava pro topo do edifício e nada via, mas o ébrio frequentador do botequim (qualquer) continuava a apontar. Sem conter mais a curiosidade, o rapaz foi até o bêbado e perguntou: "o que é que você vê no alto daquele edifício? Logo após o término da pergunta, o ébrio lança um olhar ao estilo "você não sabe?" ao rapaz, se empertiga todo na cadeira, respira fundo e, com o dedo em riste, inicia a sua explanação dos fatos:

"No alto daquele prédio, estava lá o sábio. Coberto com mantas claras, estava lá para pular. O caso era sério, mas ele dizia rindo: 'aqui não é mais o meu lugar'". Dada a pausa para uma generosa golada no seu copo de cerveja, o homem limpa a boca da espuma, e continuou, imitando a voz que provavelmente seria do sábio:

"Sei que não sei, mas se digo que sei, serei o dono da verdade, que não é verdade, mas ganho o título de celebridade". O ébrio qualquer abre um sorriso jocoso, e antes que o jovem falasse algo, continuou a falar, ainda imitando o monge budista: "Sei que sei, mas se digo 'não sei', serei o falso modesto, porque finjo não saber, e me chamam de desonesto. Então, pra que saber? É só concordar com o que dizem por aí". Agora o bêbado continua, mudando a sua postura e voz para que voltasse a ser ele mesmo: "O conceito atual excluiu a sabedoria, pois o sábio é raro, e ainda assim se critica a minoria. E o sábio que criou a crítica pagou caro, perdeu espaço, perdeu emprego, perdeu a vida. E aqui estou, eu perdi a vida, não tem mais saída".

"E o sábio pulou". E o homem, com um ar de grande ditador fazendo o seu grande discurso, arremata: "E uma voz surgiu lá no meio da multidão: 'mais um que só queria chamar a atenção'". E o ébrio abaixou o braço, e voltou a beber, e o transeunte voltou a caminhar, atravessando uma rua, qualquer.