sábado, 3 de outubro de 2009

Arrependei-vos, pois estás próximo da loucura

Quem nunca se arrependeu de uma decisão tomada, que atire a primeira verdade na cara. Estou tão cheio de arrependimento que beiro a insanidade. Nunca possuí auto-perdão, e isso agrava mais ainda a situação. Mas não ache que é remorso; as pessoas confundem muito. Falo de "se eu pudesse voltar no tempo, faria diferente". Arrependo de ações que tomei desde os 3 anos. Arrependo-me de ter mudado de escola quando tinha 15 anos, pois seria um profissional realizado. Arrependo-me de ter mudado de cidade aos 16, decisão tomada por mim, pois seria um profissional realizado financeiramente também. Arrependo-me de ter acelerado meus estudos, aos 17, pois teria conhecimento suficiente para galgar um caminho acadêmico que me satisfizesse, já que o caminho que trilhei se tornou incovenientemente frustrante. Arrependo-me de ter iniciado um relacionamento sério aos 18, pois teria vivido a minha juventude, que se foi como uma paisagem na janela do trem. E aí vai, ano após ano, colecionando arrependimentos. Arrependo do que fiz com o dinheiro que recebi de herança da minha avó materna, que não tinha nada de avó, quanto mais de materna. Por esse dinheiro ter sido a única coisa realmente boa que aquele anticristo me proporcionou, deveria tê-lo usado só para mim, para realizar pequenos sonhos, e desfazer alguns desses arrependimentos. Não fui egoísta, mas deveria ter sido. Ah, esse é o meu maior arrependimento! Todos aquelas pessoas que ajudei esqueceram da ajuda em menos de um ano (na verdade em menos de 3 meses), e hoje sou cobrado pela falta de dinheiro ou de suporte, algo que eu teria se tivesse feito a coisa certa (para mim). Esse é o pior de todos, o meu demônio, que atormenta minhas idéias e rouba minha paz. A cada vez que alguém me critica ou me cobra, o demônio me morde e cada vez mais fico ferido. Mas como todo animal ferido, fico recolhido e agressivo, e cada vez mais feroz, e cada vez mais solitário. A minha história agrava meu caso. Há muito tempo atrás, quando morava em Maceió, fui para a inauguração de uma grande praça pública. Estava lotada, e como tudo que é público no país, estava lotada de gente humilde e também de gente ignorante. Dos humildes surge um rapaz, deficiente mental que, eufórico com o cenário, compra vários pacotes de salgadinho e sai, como chapeuzinho vermelho, saltando e distribuindo o lanche para as pessoas da praça. Mas quando as pessoas ignorantes percebem, avançam como uma horda para cima do rapaz, tomam-lhe os salgados, assustam, intimidam, ofendem, e partem para a agressão, por pura diversão. A alegria dele se tornou um pesadelo, de verdade, e em pânico e em prantos, ele foge... Hoje me sinto como um retardado numa praça de Maceió e, pior do que isso, sinto as pessoas que me cercam como uma horda de ignorantes que tripudiam da minha bondade, um defeito de nascença, que era a minha maior característica. Olho para aqueles que amei e só vejo o demônio, meu demônio, meu arrependimento. Um Leviatã montado de todos meus arrependimentos. Paradoxo: cada vez estou mais feliz na tristeza da minha solidão. Queria nunca mais voltar a sentir a bondade pura, pois ela é a razão de todos os meus arrependimentos.

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